Frases

"[...]“Wanya” é um verdadeiro espectáculo visual e a prova cabal do grande talento de um desenhador, Nelson Dias, que infelizmente não deixou muita obra neste campo"
João Miguel Lameiras



domingo, 3 de fevereiro de 2008

DN Online II - Eurico de Barros

Memórias da descoberta do "ovni" da BD portuguesa

No início dos anos 70, o então crítico e editor de banda desenhada (BD) José de Matos-Cruz estava em Coimbra, a estudar Direito. "Coordenava, no semanário
Mar Alto, da Figueira da Foz, o suplemento Onda Juvenil. Tinha ainda, fundado por mim, no Diário de Coimbra, um suplemento juvenil, dedicado ao conto, à crítica, à ilustração, à poesia", conta ao DN. "E havia criado também dois fanzines, o Escora, literário, e o Copra, de BD. Conhecia o Augusto Mota, professor em Leiria, como artista gráfico, era meu colaborador. Em 1972, ele contactou-me dizendo que tinha uma 'surpresa' para me mostrar." E que surpresa. Augusto Mota apareceu em Coimbra a Matos-Cruz, acompanhado por Nélson Dias. Traziam com eles "as pranchas originais da Wanya. Fiquei deslumbrado com a qualidade gráfica e estética, com a temática épico-fantástica, e por ser uma obra dirigida a um púbico adulto. Ombreava com as BD de qualidade europeias", recorda Matos-Cruz.

Entusiasmado, o crítico começou a mexer-se para dar a conhecer Wanya e os seus autores, onde quer que pudesse, lançando mão dos jornais e títulos onde colaborava ou que dirigia: "Entrevistei-os para o Diário de Coimbra e comecei logo a pensar na divulgação no Copra, no suplemento Boomovimento deste, fazendo um 'especial Wanya'. Fiz também contactos para Lisboa e divulguei a obra em Espanha, na revista Bang!, e em França, na Falatoff. Foi muito bem recebida, mas não houve desenvolvimentos comerciais. Entretanto, a Assírio&Alvim surgiu para a editar." A tropa chamou então Matos- -Cruz, tolhendo-lhe o afã de divulgação de Wanya - Escala em Orongo.

O álbum foi lançado na Livraria Bertrand da Baixa, em Dezembro de 1973. "Estava lá muita gente. E teve 1500 exemplares de tiragem", diz Matos-Cruz, que conseguiu estar presente.

Mas a sua ligação a Augusto Mota e Nelson Dias não iria ficar por aí. "Criei na Copra um desafio aos autores de BD", conta. "Fazerem uma história, de qualquer género, com uma heroína que teria que se chamar Copra, e ter seis páginas e uma capa. Os primeiros a responder foram o Augusto e o Nelson, com o trabalho Copra - A Flor da Memória, de excelente qualidade gráfica, e que foi o número 4 do fanzine."

E depois? "Nada mais fizeram, por razões diversas. Davam ambos aulas em Leiria, depois o Nélson veio para Lisboa... E não eram 'doentes' de BD, tinham formação de artes plásticas, gráfica, literária", explica José de Matos-Cruz.

Para este, Wanya - Escala em Orongo "foi uma experiência, uma notabilíssima experiência de BD, foi um ovni da BD portuguesa. E continua a sê-lo, porque esta tomou outros rumos com o 25 de Abril, quando se politizou imenso, e depois nunca mais tocou muito no fantástico e na ficção científica. Por isso, Wanya tornou-se num álbum de culto, numa obra raríssima".|


Eurico de Barros
in http://dn.sapo.pt/2008/01/27/centrais/memorias_descoberta_ovni_bd_portugue.html

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