quinta-feira, 14 de maio de 2009
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
domingo, 2 de novembro de 2008
Wanya Premiada!
O Prémio Juventude foi recebido por Maria João Franco, viúva de Nelson Dias e artista plástica, que esteve em representação do mesmo e também de Augusto Mota, autor do texto, cujas palavras aqui deixamos:
"o valor do álbum está no valor do grande desenhador que foi o Nelson Dias, sendo o meu texto, apenas, o possível guião metafórico para a época de opressão que, então, se vivia e fico muitíssimo satisfeito por mais esta merecida distinção ao trabalho do artista, que vem na sequência de outras homenagens que, de vários quadrantes, recentemente, lhe têm vindo a ser feitas. " Augusto Mota
Brevemente teremos algumas imagens do evento
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Wanya no FIBDA
Estão expostas pranchas inéditas de Nelson Dias, que iriam integrar uma segunda Wanya, intitulada - Wanya - O Povo dos Espelhos que nunca foi terminada, entre outros trabalhos não publicados.
Wanya - Escala em Orongo foi também nomeado para o Prémio Clássicos da 9ªArte dos Prémios Nacionais de Banda Desenhada, pela Editora Gradiva.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Nelson Dias no Fórum Fantástico
Já iniciado ontem dia 2 de Outubro, a 2ª edição do Fórum Fantástico realiza-se este ano na Faculdade de Belas Artes de Lisboa onde Nelson Dias deu aulas até 1993, ano em que faleceu. A organização aproveita esta reedição da Wanya para homenagear o autor e dar a conhecer um pouco mais da sua obra. No dia 5 de Outubro no Auditório da FBA - UL vai decorrer a homenagem onde estarão presentes:
Prof. Maria João Gamito
Pintora Maria João Franco
Guilherme Valente(Gradiva)
Rogério Ribeiro(organização)
Domingo, 5 de Outubro
14:30 - Balanço do ano editorial (Rogério Ribeiro, Luís Rodrigues e João Barreiros).
15:30 - “Chichen Itza - A Fonte da Juventude” de Renato Fontinha, apresentado por Paulo Alexandre Moreira, com a presença do autor.
16:00 - Apresentação de Richard K. Morgan.
16:30 - Intervalo.
17:00 - Homenagem a Nelson Dias, com a presença de Maria João Gamito, Maria João Franco e Guilherme Valente.
18:00 - Exibição do documentário “Comics’Trip”, com a presença do realizador Paulo Prazeres e do desenhador João Lemos.
18:30 - Encerramento do FF2008.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Tertúlia BD - Homenagem a Nelson Dias
Maria João Franco, artista plástica e viuva do homenageado faou um pouco sobre a obra do autor de Wanya Escala em Orongo e respondeu a algumas perguntas dos presentes.
sexta-feira, 15 de agosto de 2008
Homenagem póstuma a Nelson Dias na Tertúlia BD
Após algum tempo de ausência, temos o prazer de anunciar mais uma(nunca são demais) homenagem a Nelson Dias. Desta feita terá lugar na Tertúlia BD, organizada por Geraldes Lino.
Teremos muito gosto que nos acompanhem em mais esta reunião em que o autor de Wanya será relembrado e homenageado.
sexta-feira, 21 de março de 2008
Homenagem a Nelson Dias em Leiria :: 16 de Março 2008
Os intervenientes, da esquerda para a direita: Augusto Mota(autor do texto), João Nazário(Jornal de Leiria), Maria João Franco(artista plástica e viuva de Nelson Dias, em sua representação), Geraldes Lino(editor de fanzines e um dos prefaciadores desta edição )e Guilherme Valente(Gradiva).
Por razões profissionais não puderam estar presentes os prefaciadores Rui Zink(escritor) e José de Matos Cruz(escritor, jornalista e editor).
Queremos agradecer à organização do VIRUS - Festival de BD, Ilustração e Cinema de Animação de Leiria, nomeadamente à Tânia Afonso, Nuno Nunes e à Livraria Arquivo.
Apesar de esta 1ª edição ter corrido muitíssimo bem, tenho a certeza que para o ano será ainda melhor.
Mas a homenagem ainda não acabou. Brevemente teremos mais notícias!!!
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
Lançamento de Wanya em Leiria
A 16 de Março , pelas 15 h, vai decorrer, numa iniciativa da Livraria Arquivo, inserida no Festival de Banda Desenhada de Leiria VIRUS - Mostra de BD, Ilustração e Animação, mais uma homenagem a Nelson Dias, com o lançamento de Wanya na cidade que viu nascer a obra.
Com a presença dos prefaciadores desta reedição, Rui Zink, Geraldes Lino e José de Matos-Cruz, Maria João Franco, artista plástica e viuva de Nelson Dias, em sua representação e Augusto Mota, autor do texto.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Wanya regressa a Orongo
Publicada originalmente em 1973, em plena “Primavera Marcelista”, “Wanya” é claramente filha do seu tempo, tanto em termos estéticos, como literários. Filiada numa corrente de ficção científica da Banda Desenhada francesa, em que o erotismo se alia ao comentário social, lançada pelo editor Eric Losfeld, de que “Saga de Xam”, de Nicolas Devil, é o exemplo mais importante e influência directamente assumida pelo desenhador, “Wanya” demonstra que o impacto desta obra, e de outras como a “Barbarella” de Jean-Claude Forrest, também editada por Losfeld, se fez sentir em Portugal, apesar da censura que dificultava o acesso a este tipo de BD mais adulta e “engagé”.
Curiosa história de ficção científica libertária e de ressonâncias cósmicas, “Wanya” foi apontada por alguma crítica como tendo um tom político que presagiava as mudanças ocorridas com o 25 de Abril. E, mesmo que o argumentista Augusto Mota rejeite essa visão mais panfletária, frases como “o povo veio finalmente dos subterrâneos para a superfície”, ou a semelhança fonética entre o nome de Isar, o Deus/despota iluminado cuja morte veio libertar o povo de Citânia, e o nome de Salazar, falecido anos antes, permite essas leituras.
Trinta e cinco anos depois da edição original, (re)ler “Wanya” permite constatar que o texto de Augusto Mota, cujo tom solene é muitas vezes redundante em relação ao que as imagens mostram, envelheceu pior que os desenhos de Nelson Dias, cuja técnica de pontilhado, na linha de Caprioli e dos primeiros trabalhos de Esban Maroto, é impressionante. Belo exemplo da estética da Pop Art e da absorção pela BD de elementos provenientes de outras artes, bem patente na sequência de duas páginas, de que escolhi uma para ilustrar este artigo, em que Vania conta a história da Terra aos habitante de Citânia, “Wanya” é um verdadeiro espectáculo visual e a prova cabal do grande talento de um desenhador, Nelson Dias, que infelizmente não deixou muita obra neste campo.
Com a excepção de “Eternus 9″, de Victor Mesquita, 5 ou 6 anos depois, em que o trabalho de Philipe Druilllet se afirma como influência principal, “Wanya” não deixou herdeiros, afirmando-se como um dos raros exemplos de ficção científica na BD nacional, o que torna ainda mais relevante a sua existência.
A edição da Gradiva, cuja capa, bastante mais conseguida do que a da edição original da Assírio & Alvim, recupera um estudo de Nelson Dias, respeita em tudo a primeira edição, inclusive nas gralhas do texto e na diferença de grafia do nome da protagonista, que de Wanya na capa, passa a Vania no interior. O único acrescento são os três prefácios, de interesse variável, que procuram contextualizar a obra para os leitores do Século XXI.
Mas, se essa preocupação de enquadrar o álbum no contexto da época em que foi criado, é louvável, tão ou mais interessante teria sido publicar num caderno a cores as seis páginas existentes de “Wanya e o Povo dos Espelhos”, a segunda aventura de Wanya que ficou incompleta, Com a excepção do catálogo da segunda Exposição que o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian dedicou à Banda Desenhada portuguesa, essas pranchas permanecem inéditas, pelo que me parece que faria todo o sentido juntar essa história inacabada ao álbum que recupera a missão de Wanya em Orongo para uma nova geração de leitores. E mesmo em termos comerciais, parece-me que a inclusão da aventura inédita e incompleta de Wanya faria todo o sentido, pois seria uma importante mais valia que podia levar alguns dos leitores que já têm a edição da Assírio & Alvim a comprar esta nova edição.
(”Wanya: Escala em Orongo”, de Augusto Mota e Nelson Dias, Gradiva, 72 pags, 15,0 €)
(Blog: http://wanya-escalaemorongo.blogspot.com/)
Artigo escrito por: João Miguel Lameiras in http://www.drkartoon.com/blog/2008/02/19/wanya-regressa-a-orongo/
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Nelson Dias faria hoje 68 anos
Nelson Dias nasceu a 17 de Fevereiro de 1940 e faleceu a 26 de Janeiro de 1993, deixando uma vasta obra, que é agora relembrada.
Aproveitamos também para divulgar a criação da página Wanya no Myspace, cujo link deixamos aqui para os interessados e futuros Friends:
http://www.myspace.com/wanya2008
Cordiais Saudações
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
domingo, 3 de fevereiro de 2008
Lançamento de Wanya - Escala em Orongo - 26 de Janeiro de 2008
Em homenagem ao autor dos desenhos que fizeram dela a obra de vanguarda inconfundível que todos conhecemos, estiveram presentes:
(por ordem de aparecimento nas fotos)
Guilherme Valente, dono da Gradiva e a quem devemos esta reedição e agradecemos as suas palavras de admiração pelo homem, artista e pedagogo que foi Nelson Dias;
Augusto Mota, autor do texto, que nos cedeu estas imagens, para junto com a obra do homenageado, mais tarde podermos recordar;
Maria João Franco, artista plástica e viúva de Nelson Dias, em sua representação;
José de Matos-Cruz, prefaciador desta edição,escritor, jornalista, editor e crítico de Banda Desenhada e primeiro grande divulgador de Wanya;
Geraldes Lino, prefaciador desta edição, crítico de banda desenhada e editor de fanzines. É também dinamizador da Tertúlia BD, há mais de 20 anos;
Rui Zink, prefaciador desta edição, escritor e professor universitário.
Joana e Catarina, que , junto com o Ricardo, são responsáveis pela Livraria Trama, onde se fez o lançamento;
Diário Digital
«Wanya - Escala em Orongo», uma banda desenhada experimental e vanguardista de Nelson Dias e Augusto Mota lançada pouco antes da revolução de Abril, vai ser reeditada este mês, 35 anos depois da primeira edição.
«Wanya - Escala em Orongo», uma banda desenhada experimental e vanguardista de Nelson Dias e Augusto Mota lançada pouco antes da revolução de Abril, vai ser reeditada este mês, 35 anos depois da primeira edição.
A obra tem desenho de Nelson Dias e texto de Augusto Mota, dois professores que se conheceram numa escola em Leiria e que criaram uma das mais modernas bandas desenhadas portuguesas, cuja personagem principal - Vânia - é uma heroína no planeta Orongo.
«É uma obra de vanguarda do ponto de vista técnico e gráfico, com uma modernidade e um arrojo ético-fantástico que me surpreenderam», disse à agência Lusa o crítico de BD José de Matos-Cruz, que em 1972 publicou algumas pranchas originais de «Wanya» numa fanzine em Coimbra.
«Wanya - escala em Orongo», que é editado este mês pela Gradiva, saiu pela primeira vez em Dezembro de 1973, pela Assírio & Alvim, com uma tiragem de cinco mil exemplares, revelando uma narrativa figurativa pouco usual na banda desenhada da época.
«Rompeu com o padrão de banda desenhada da altura, que era sobretudo para um público infanto-juvenil, e surgiu como uma obra para adultos, com uma heroína que é quase um símbolo da mulher libertadora», explicou José de Matos-Cruz, que assina um dos três prefácios da nova edição.
Esta segunda edição tem um formato quadrado, uma nova capa, que é uma montagem de várias pranchas da história, e inclui prefácios do escritor Rui Zink, de José de Matos-Cruz e do especialista em BD e fanzines Geraldes Lino.
Augusto Mota, actualmente com 73 anos, recordou à agência Lusa que Nelson Dias lhe mostrou inicialmente seis pranchas sem texto, feitas a tinta-da-china, que apresentavam um imaginário novo e diferente.
«Como trabalhávamos juntos, fomos construindo e discutindo a história dia-a-dia e no livro o desenho nem sempre explica as palavras, nem as palavras explicam o desenho», recorda Augusto Mota.
Descrita por Rui Zink como um livro-poema generoso, engenhoso e complexo, a obra «Wanya - escala em Orongo» foi inovadora ainda na temática, cruzando ficção científica e o fantástico com uma mensagem de libertação social do Homem.
A história de «Wanya», que se passa num cenário inóspito, onde a civilização Citânia é vigiada pelas aves-do-desespero, fala da «concretização de um Homem novo e faz por isso uma chamada de atenção à situação político-social da época», disse à Lusa Maria João Franco, viúva de Nelson Dias (falecido em 1993).
Maria João Franco, que serviu ainda de modelo para a imagem de Vânia, explicou que o ilustrador queria sobretudo narrar uma história com imagens.
«Fez os desenhos com tinta-da-china e com uma paciência incalculável, sobretudo nos pormenores e no pontilhismo», disse, referindo a admiração de Nelson Dias por ficção científica e pela banda desenhada franco-belga.
Na altura do lançamento, quatro meses antes do 25 de Abril de 1974, Maria João Franco lembra que «o regime estava podre e que as pessoas estavam ávidas de cultura», pelo que a edição esgotou.
Trinta e cinco anos depois, a segunda edição será uma homenagem póstuma a Nelson Dias, falecido em 1993 aos 53 anos, deixando ainda alguns originais a cores destinados a uma segunda história de «Wanya».
«Wanya - escala em Orongo» será oficialmente apresentado no dia 26 na livraria Trama, em Lisboa, com a presença de Augusto Mota, Maria João Franco, Rui Zink, Geraldes Lino e José de Matos-Cruz.
Nelson Dias, que em 1973 tinha 33 anos, estudou pintura na Escola Superior de Belas Artes do Porto e tem obra representada em várias colecções.
Augusto Mota, que tinha 37 anos quando saiu «Wanya - escala em Orongo», é licenciado em Filologia Germânica e colaborou com texto e ilustração para várias publicações.
«Wanya - escala em Orongo» foi a única obra que ambos lançaram em conjunto.
Diário Digital / Lusa
in http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=314668
DN Online II - Eurico de Barros
No início dos anos 70, o então crítico e editor de banda desenhada (BD) José de Matos-Cruz estava em Coimbra, a estudar Direito. "Coordenava, no semanário Mar Alto, da Figueira da Foz, o suplemento Onda Juvenil. Tinha ainda, fundado por mim, no Diário de Coimbra, um suplemento juvenil, dedicado ao conto, à crítica, à ilustração, à poesia", conta ao DN. "E havia criado também dois fanzines, o Escora, literário, e o Copra, de BD. Conhecia o Augusto Mota, professor em Leiria, como artista gráfico, era meu colaborador. Em 1972, ele contactou-me dizendo que tinha uma 'surpresa' para me mostrar." E que surpresa. Augusto Mota apareceu em Coimbra a Matos-Cruz, acompanhado por Nélson Dias. Traziam com eles "as pranchas originais da Wanya. Fiquei deslumbrado com a qualidade gráfica e estética, com a temática épico-fantástica, e por ser uma obra dirigida a um púbico adulto. Ombreava com as BD de qualidade europeias", recorda Matos-Cruz.
Entusiasmado, o crítico começou a mexer-se para dar a conhecer Wanya e os seus autores, onde quer que pudesse, lançando mão dos jornais e títulos onde colaborava ou que dirigia: "Entrevistei-os para o Diário de Coimbra e comecei logo a pensar na divulgação no Copra, no suplemento Boomovimento deste, fazendo um 'especial Wanya'. Fiz também contactos para Lisboa e divulguei a obra em Espanha, na revista Bang!, e em França, na Falatoff. Foi muito bem recebida, mas não houve desenvolvimentos comerciais. Entretanto, a Assírio&Alvim surgiu para a editar." A tropa chamou então Matos- -Cruz, tolhendo-lhe o afã de divulgação de Wanya - Escala em Orongo.
O álbum foi lançado na Livraria Bertrand da Baixa, em Dezembro de 1973. "Estava lá muita gente. E teve 1500 exemplares de tiragem", diz Matos-Cruz, que conseguiu estar presente.
Mas a sua ligação a Augusto Mota e Nelson Dias não iria ficar por aí. "Criei na Copra um desafio aos autores de BD", conta. "Fazerem uma história, de qualquer género, com uma heroína que teria que se chamar Copra, e ter seis páginas e uma capa. Os primeiros a responder foram o Augusto e o Nelson, com o trabalho Copra - A Flor da Memória, de excelente qualidade gráfica, e que foi o número 4 do fanzine."
E depois? "Nada mais fizeram, por razões diversas. Davam ambos aulas em Leiria, depois o Nélson veio para Lisboa... E não eram 'doentes' de BD, tinham formação de artes plásticas, gráfica, literária", explica José de Matos-Cruz.
Para este, Wanya - Escala em Orongo "foi uma experiência, uma notabilíssima experiência de BD, foi um ovni da BD portuguesa. E continua a sê-lo, porque esta tomou outros rumos com o 25 de Abril, quando se politizou imenso, e depois nunca mais tocou muito no fantástico e na ficção científica. Por isso, Wanya tornou-se num álbum de culto, numa obra raríssima".|
Eurico de Barros
in http://dn.sapo.pt/2008/01/27/centrais/memorias_descoberta_ovni_bd_portugue.html
DN Online - Isabel Lucas
Cada letra desenhada. Uma a uma. A decalque. Uma caneta a passar por uma daquelas réguas transparentes com o abecedário completo. "O tempo corre no espaço de encontro aos seus próprios limites..." O início. E, como o resto, em letras de corpo sete, que é como quem diz: letras muito pequenas, alinhadas muitas vezes à esquerda, o que significava ter de escrever ou decalcar o texto ao contrário. De trás para a frente. Era o tempo a correr lento, longe do tempo dos computadores. Foram palavras escritas a partir de imagens; revolucionárias para a época em Portugal quando ainda não tinha acontecido o 25 de Abril . Pranchas que se competiam com o que de melhor se fazia na BD de referência europeia, inspirada em livros surripiados, à revelia da censura. Assim nasceu Wanya - Escala em Orongo, que agora é reeditada 35 anos depois da primeira publicação em 1973. Esta reedição com a chancela da Gradiva sai com as gralhas de uma escrita (edição) que não permitia correcções. Opção editorial, como conta agora Augusto Mota, professor de inglês reformado, autor da história que Nelson Dias desenhou. Os dois conheceram-se no liceu de Leiria, onde davam aulas. "Eu de Inglês ele de Desenho", conta Augusto Mota no dia em que faz 15 anos que morreu Nelson Dias, data escolhida para apresentar a reedição de uma obra que começou pelo desenho. "Ele apareceu ao pé de mim com seis pranchas e pediu-me para escrever um texto para aquilo. Achei os desenhos absolutamente fantásticos, com uma heroína inspirada fisicamente na mulher dele, e decidi experimentar. Funciono muito assim. Escrever para imagens. Uma escrita por sugestão", continua um dos autores de Wanya. Depois, o processo inverteu-se. Augusto Mota forneceu o guião a Nélson Dias e foram as palavras a guiar a pena do desenhador. Palavras que ele mesmo, já se disse, haveria de desenhar "com toda a minúcia" como afirma Augusto Mota, usando sempre no plural quando que fala da autoria de um livro que ontem só ele pode apresentar e que contava uma aventura, a aventura de Wânia ou seja, "a aventura do homem frente ao universo ilimitado da sua imaginação, onde a verdade parece nem sempre acompanhar o fulgor das galáxias distantes", lê-se no início. Esse "nós", de Augusto Mota, é um plural cúmplice de quem repartiu a surpresa de ser aceite pelo primeiro editor a quem mostraram a obra: A Assírio & Alvim. "Assinámos um contrato de 46 contos. Recebemos 20. Eu vinha a Lisboa de vez em quando buscar um cheque. O Nelson era mais tímido. Ficaram por pagar 26 contos. Nunca soube muito bem o que se passou." Augusto Mota fala disso e olha para a pilha de livros que tem ao lado e a placa a marcar 15 euros cada. Em 1973 custava 80 escudos, estava ao alcance de poucos. Faz uma pausa para falar descontinuidade ou do motivo porque um livro tão marcante como Wanya não continuou enquanto série "porque veio o 25 de Abril e as pessoas começaram a envolver-se noutras coisas. A BD não era o mais importante", diz. Diz ainda que nunca quiseram fazer de Wanya um livro panfletário "apesar do aproveitamento que dele fez uma certa esquerda e do modo como a censura interpretou uma das frases em que se dizia que o povo vinha finalmente do subterrâneo para a superfície". Chegou para levar Wanya ao índex, à lista dos livros proibidos, mas, mais uma vez, o 25 de Abril interferiu no percurso deste álbum. Derrubado o regime, o livro pode andar pelas livrarias e tornar--se culto para uma geração. "Mostra que não era uma obra politizada. Se o fosse não teria sobrevivido até agora", sorri Augusto Mota. "Foi importante. A BD passou a ter outro estatuto em Portugal. Já não eram só os fanzines ou o que se chamava livros aos quadradinhos. Passou a ter uma conotação literária." Augusto Mota lembra as "boas críticas, uma edição na Alemanha, a reprodução de uma dupla página representativa do século XX na capa do jornal espanhol Globo." Lembra isso e continua a dizer "nós". "Apanhou-nos desprevenidos." "Hoje, se o Nelson aqui estivesse estaria muito calado, quase a pedir desculpa por estar aqui."
Isabel Lucas
in http://dn.sapo.pt/2008/01/27/centrais/wanya_retrato_um_album_culto.html